Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)
Empresa criada em 2014 em Santa Maria é especializada em um ramo incomum: a produção de brotos comestíveis para vender a restaurantes e mercados. Cristian (à esq) e Daniel comandam o negócio
Você já comeu brotos de feijão, ou beterraba, ou até de alfafa nas refeições? A primeira impressão parece estranho, no entanto, é um alimento rico em vitaminas e proteínas. Há cinco anos, dois jovens empresários apostam na produção de brotos em Santa Maria. E o resultado tem sido melhor do que o esperado. Formados em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Daniel Padoin Chielle, 30 anos, e Cristian Franck, 29, conheceram-se na faculdade. Depois de concluída a graduação, Chielle, que é de Taquari, e Franck, de Horizontina, rumaram a Santa Maria onde seguiram os estudos em mestrados da UFSM, quando surgiu a ideia da produção de brotos.
- Começamos com um pequeno experimento em uma estufa nos fundos da casa da minha avó, em Santa Maria. Tivemos muitos erros até chegar a uma produção equilibrada. Meu pai, que é agrônomo, nos ajudou bastante - diz Chielle, mestre em Engenharia de Processos.
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- Alimentação é um ramo que sempre vai ser necessário às pessoas, e elas precisam entender que alimentação saudável não é moda. Ainda falta um pouco de conhecimento sobre o assunto - afirma Franck, mestre em Mecanização Agrícola.
No início da produção, a dupla registrou perdas, principalmente pela falta de experiência no ramo. Inclusive, visando evitar prejuízos, os empresários buscaram auxílio do programa de capacitação do Sebrae Juntos Para Competir, através de consultoria para gestão do negócio.
Hoje, a empresa leva o nome de Zeferino Alimentos e atende restaurantes e os supermercados Big, Nacional, Beltrame e Rede Super com seis tipos de brotos: linhaça, trevo, feijão, rabanete, lentilha e alfafa. O último é mais conhecido, mas todos têm boa aceitação pelos consumidores.
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- Eles se encaixam em diferentes receitas. Os brotos de feijão e lentilha são os mais usados em pratos quentes. Porém, o mais comum é serem consumidos em salada, com tempero a gosto. É um alimento rico em vitaminas B, antioxidantes e proteína. 80% da produção é focada em brotos de trevo e alfafa - explica Franck.
De acordo com ele, alguns tipos de brotos, como de beterraba e cebola, também são produzidos, mas apenas sob encomenda, já que o custo da semente é maior e o sabor mais forte.
PROCESSO DE PRODUÇÃO É MANUAL E DEPENDE DE TÉCNICA
A produção dos brotos comestíveis é feita de forma simples e manual. O ciclo para que o produto possa ser consumido dura exatos 7 dias. Primeiramente, as sementes importadas da Austrália e dos Estados Unidos são colocadas em pequenas esteiras de alumínio dispostas em prateleiras. Elas permanecem em um ambiente com irrigação e temperatura controladas, no escuro, por quatro dias.
- É só a semente, água e temperatura certa. Não há qualquer tipo de insumo ou agrotóxico sobre a planta - diz Chielle.
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Depois disso, os outros três dias para complemento da germinação do broto, as bandejas ficam em uma outra área já com iluminação, mas que segue com a temperatura e água controladas. A água é de um poço artesiano, já que não pode conter produtos como o cloro. São consumidos cerca de 5 mil litros diariamente.
Quando prontos, inicia o processo de limpeza e embalagem. O primeiro passo é a lavagem em tanque de água corrente para retirada das cascas das sementes que não germinaram, já que elas têm celulose e podem ser prejudiciais à pessoas alérgicas, diz Franck. Em seguida, uma segunda lavagem é feita com água em baixa temperatura que serve para interromper a germinação do broto. Após isso, o produto vai para outro setor, onde é colocado em embalagens de 100 gramas, destinado aos supermercados, e de 500 gramas, para restaurantes.
- A produção exige higiene e muitos cuidados específicos, já que o nosso produto tem um ciclo rápido e, sem isso, pode haver perdas - analisa Franck (foto ao lado).
PLANO É AMPLIAR LEQUE DE PRODUTOS
Hoje, Daniel Chielle e Cristian Franck têm quatro funcionários que ajudam na produção. No entanto, a entrega aos estabelecimentos é feita por eles.
- Fizemos questão ter o contato com o cliente todo dia. A gente estreita o relacionamento com o cliente e consegue ter um retorno direto sobre o que está bom ou o que não está - diz Cristian Franck.
A produção mensal fica entre 800 e 900 quilos. A empresa já chegou a abastecer estabelecimentos de cidades como Pelotas e Santa Cruz do Sul, mas a dupla resolveu voltar o foco só para Santa Maria.
- Teve uma ótima aceitação nessas cidades. Mas, devido à demanda, não conseguíamos atender com satisfação os clientes daqui e os de fora. Então decidimos focar no atendimento de qualidade aqui. Quem sabe, futuramente, possamos ampliar para fora de Santa Maria novamente - afirma Daniel Chielle (ao lado).
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Agora, a dupla pretende ocupar o espaço de 150 m² também para beneficiamento de produtos como morango, tomate cereja e saladas, entre outros.
Eles já têm parcerias com pequenos produtores de tomate cereja e morangos, que são selecionados na Zeferino para que cheguem ao consumidor com o mínimo de perdas. A dupla quer transformar o local em agroindústria, com a venda também de geleias e compotas, e abrir um ponto fixo de venda na cidade.